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Homenagem
Póstuma ao ilustre Professor Ubiratan de Castro
A notícia do falecimento do Professor
Ubiratan de Castro, causou-me imenso pesar.
O Professor Bira, como era tratado de
forma afetiva pelos alunos e conhecidos, era considerado uma referência nos
meios acadêmicos, pelo seu profundo conhecimento da História da Bahia e sua
atuação na cultura em geral. Era Mestre e Doutor em História pela Université
Paris X-Nanterre e Université Paris IV-Sorbonne, respectivamente, e membro da
Academia de Letras da Bahia.
Afrodescendente pela sua origem, teve
expressiva contribuição à cultura africana quando esteve à frente da Fundação
Cultural Palmares e como diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba
(CEAO), e presidente do Conselho para o Desenvolvimento das Comunidades Negras
de Salvador (CDCN).
Na direção da Fundação Pedro Calmon,
conduziu-se de forma eficiente, e acessível àqueles que o solicitavam. Era de
uma simplicidade extremamente natural no tratamento com as pessoas.
Ele
se fora cedo, mas deixa um grande legado, que com certeza ficará eternizado por
tudo que foi e que fez.
A saga do cacau na terra de Gabriela
O theobroma cacao é uma planta de origem mexicana, cujas propriedades
já eram conhecidas desde o início do descobrimento da América espanhola. Era
usada nos rituais religiosos dos astecas, sendo considerada uma bebida dos
deuses. O cacaueiro foi constatado em seu estado nativo no Amazonas.
As primeiras sementes só foram trazidas para a Bahia no século XIX e, já na terceira década, é iniciado um plantio em escala comercial. O cacau encontrou no ecossistema da região de Ilhéus e Itabuna, pioneiras nos plantios baianos, as condições climáticas ideais e favoráveis ao seu desenvolvimento, tornando essas regiões, os principais polos produtores na Bahia.
As primeiras sementes só foram trazidas para a Bahia no século XIX e, já na terceira década, é iniciado um plantio em escala comercial. O cacau encontrou no ecossistema da região de Ilhéus e Itabuna, pioneiras nos plantios baianos, as condições climáticas ideais e favoráveis ao seu desenvolvimento, tornando essas regiões, os principais polos produtores na Bahia.
A partir de meados do
século XIX, começou ocorrer um grande fluxo migratório para aquelas regiões e
todo o baixo-sul baiano. Os plantios de cacau, logo se configuraram como uma
nova atividade agrícola, de grande expressão mercantil, criando um novo ciclo
econômico com a decadência do ciclo açucareiro.
Os demais ciclos tinham chegado à exaustão no auge da sua exploração.
O cultivo do cacau foi
iniciado com mão de obra escrava, com a ponta do facão e já nas décadas
seguintes passou a representar o principal produto na pauta de exportação
baiana.
Essas contingências
atraíram um grande número de aventureiros, gente de toda sorte oriundos dos
mais distantes lugares, que começaram a disputar à base de lutas armadas com mortes,
terras devolutas e sem donos.
Virou uma terra sem
lei, com séquitos de jagunços e matadores de aluguel contratados para invasão,
ocupação e domínio das terras. Essa saga
pioneira e sanguinária, com todo tipo de atrocidades, foi tema de um romance de
Jorge Amado: “Tocaia Grande”.
Num contexto de
dominação, os antigos senhores de engenhos, passando a donos das fazendas de
cacau, continuavam a ter poder em seus domínios, um legado que passavam aos
seus descendentes. No período monárquico do Segundo Império, esse poder se institucionalizara
de forma visível, com uma nova roupagem, impondo mais autoridade, respeito e
temor: os Coronéis de Armas do Segundo Império.
Era o poder econômico
comprando patentes e assumindo poder policial e militar, ganhando prestígio e,
por consequência, maior domínio político e econômico. Em razão disso, os
antigos coronéis se perpetuaram, com mandos e desmandos, impondo-se pela truculência
e terror. Através de seus jagunços e de matadores profissionais, os coronéis
tomavam terras e, quanto maior os seus domínios, maior se tornavam seus currais
eleitorais que mantinham no poder uma hegemonia incompetente, de mentalidade provinciana
e atrasada.
Os coronéis protagonizaram um período de nossa
historia no qual ocorreu um significativo desenvolvimento econômico, sendo eles
grandes produtores de cacau. Entretanto, não houve nenhum avanço no que tange
ao desenvolvimento humano e social, uma vez que a escravidão só mudou de regime,
os trabalhadores eram mantidos presos a um ciclo devedor nas vendas existentes
nas próprias fazendas. Eles eram obrigados a comprar sem nunca conseguirem
quitar suas dívidas. Fugir do perverso sistema devedor era a própria sentença
de morte.
O
rei do cacau
No
contexto histórico e real, o legendário Coronel Misael Tavares, em 1920, chegou
a ser Intendente de Ilhéus. De grande produtor de cacau passou a banqueiro,
dono do Banco Misael Tavares, que concedia crédito aos agricultores e
produtores de cacau de toda região do baixo-sul baiano, tendo enriquecido e
aumentado de forma acentuada a sua fortuna e patrimônio pessoal, por conta das
ações judiciais com os devedores, através de um sistema predador de crédito
hipotecário. Tornou-se o maior produtor de cacau de sua época, produzindo em
suas inúmeras fazendas, situadas em Ilhéus e Itabuna, quase 100 mil arrobas por
ano, o equivalente a 1.500 toneladas.
Tal produção lhe valeu o título de rei do cacau na Bahia.
(Fragmentos do livro
: A Bahia no século XX – Da saga do
cacau à descoberta do petróleo de Almir
Tosta )
UM CASTELO
E MUITAS HISTÓRIAS
Situado na Praia do Forte, no município
de Mata de São João, a Casa da Torre ou Castelo de Garcia D’Ávila, como é
conhecido, é hoje um importante sítio arqueológico, que remonta ao século XVI,
época da fundação da cidade de Salvador. É a mais antiga construção colonial da
Bahia, em processo de restauração pelo Patrimônio Artístico Nacional, e objeto
de visitas obrigatórias.
Antecedência
Histórica
Garcia D’Ávila, almoxarife
real, chegou na Comitiva de Tomé de Sousa em 1549. Tinha trânsito e grande
proximidade com o primeiro Governador Geral, do qual era um filho bastado. Essas
prerrogativas o tornou primeiro criador de gado em Salvador.
De posse de tamanho latifúndio,
resolveu criar gado nas terras recebidas, e para tanto trouxe da Índia,
matrizes zebuínas, tendo se tornado o introdutor das raças Gir e Guzerá em
terras brasileiras. Essas raças de natureza rústica se aclimataram muito bem no
Brasil.
Com o desenvolvimento da
criação de gado, Garcia enriqueceu e se tornou o maior pecuarista do Brasil. Além
de ser o único fornecedor de carne à cidade de Salvador, uma população
essencialmente carnívora, fornecia charque e couro para os garimpos de ouro e
de diamante da Chapada Diamantina.
Sua importância e riqueza
atravessaram fronteiras. O Castelo de Garcia D’Ávila se constituiu o maior Feudo
do Brasil e assumiu estratégia militar de defesa da cidade de Salvador.
Almir Tosta
Parabéns Almir, grande objeto de estudo seu Blog.
ResponderExcluirPaz e Bem
Esse é o meu amigo Almir Tosta. Parabéns pela pesquisa. Seu blog é enriquecedor.
ResponderExcluirCaríssimo amigo Almir você é um dos maiores historiadores que conheço.
ResponderExcluirEstou aguardando mais historias.
Beijo