Movimentos Sociais renascem com todo vigor no país
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Um
país cuja juventude foi castrada politicamente pela Ditadura, formando uma
sociedade integrante de um inconsciente coletivo, com profunda apatia, sempre
se mostrando incapaz de se mobilizar para defender seus interesses e encarar
seus problemas, nos surpreende com uma mobilização que começou em São Paulo e
se estendeu por todo país. Apesar da repressão policial do primeiro dia, 13 de
junho de 2013, cinco dias após, os manifestantes voltaram às ruas com mais
força, mais reivindicações numa quantidade impressionante. Milhares
pessoas ocuparam a Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, e a Praça da Sé e a
Avenida Paulista, coração financeiro da cidade de São Paulo.
Nas
manifestações seguintes, a Av. Presidente Vargas no Rio Janeiro recebeu um
número de pessoas nunca vista no Brasil, numa passeata de protesto. Teve cerca
de quatro quilômetros ocupados por manifestantes que seguiam para a Igreja da
Candelária, onde se concentraram. Segundo diversos informes, foram
concentrações que ultrapassaram em muito o Movimento popular das caras pintadas
para o impeachment do então presidente Fernando Collor em 1992, acusado de
corrupção, e também o Movimento das Diretas Já, em 94, que envolveu todos os
setores da sociedade.
Outros
estados também aderiram ao Movimento e o “Gigante acordou”, expressão utilizada
nos protestos. A Prefeitura de São Paulo acabou cedendo em relação ao reajuste
da passagem, mas este foi apenas uma das insatisfações e, certamente, não foi a
maior delas. A mobilização ganhou força, mas se dispersou em seus objetivos e
demandas. Em alguns momentos nos pareceu que parte da população não se deu
tempo de pensar e saíram pondo para fora tudo que estava preso na garganta, e
fazia sentido, era uma oportunidade inusitada para muitos. Mas houve também os
que se infiltraram, com intuito de descaracterizar o Movimento e, se não
conseguiram, pelo menos atiçaram a força policial. Com isso, a repressão que
nesses momentos ocorre sem motivos, ganhou indícios para justificar a
truculência no tratamento com as manifestações.
Causou-me
grande repúdio a selvagem repressão ocorrida em Salvador, no dia 20 de junho,
uma quinta feira, dia do jogo no estádio da Fonte Nova, da Nigéria contra o
Uruguai, tornando o Campo Grande, a maior Praça da cidade, num verdadeiro campo
de batalha. Com balas de borracha, spray de pimenta, bombas de gás, o Batalhão
de Choque e Cavalaria, não poupou jovens, mulheres e idosos, tendo deixado um
saldo de mais de 50 feridos. Foi bloqueado o acesso ao estádio da Fonte Nova,
como se uma manifestação pacífica externa ao estádio, fosse impedir o jogo, que
se realizou.
Tal
repressão e truculência foi ordenada pela prepotente autoridade do governador,
Sr. Jacques Wagner, que de militante, não teve nenhuma experiência, bem se sabe
disso. Aproveitou-se de forma oportunista dos movimentos sindicais que se
realizaram no Polo Petroquímico de Camaçari, nas campanhas salariais nas portas
das fábricas, infiltrando-se entre os sindicalistas, para mostrar sua cara,
usando o Sindiquímica-BA, como alavanca para suas pretensões e carreira
política, conseguindo apoio do movimento dos petroquímicos e petroleiros, para
se tornar deputado e depois governador. Como nunca sentiu na pele os rigores de
uma dura repressão policial-militar, agressão física e tampouco tortura nos
subterrâneos e frios porões dos DOI-CODIS, da Ditadura, não adquiriu com isso,
sensibilidade, para impedir e evitar a cruel repressão ocorrida.
A
manifestação continha cartazes com as mesmas reivindicações de outras cidades
do país, mas sentimos ausências de cobranças mais severas em relação às
necessidades de Salvador, principalmente no que tange a conclusão das obras do metrô,
que já se arrastam por tantos anos e se tornaram numa lucrativa promessa de
campanha para tantos mandatos. As verbas da obra foram objeto de sucessivos
atos de corrupções. Tal fato dá um cabal testemunho da insensibilidade e
desrespeito a uma população precariamente atendida por um transporte urbano,
que além de caro, só trafegam superlotados, demandando até duas horas, para
chegar aos destinos, num trânsito que se tornou caótico e travado em longos
congestionamentos. Enquanto isso, a Fonte Nova foi totalmente implodida e reconstruída
dentro dos exagerados rigores da FIFA, em apenas 18 meses.
Mas
o governador Wagner não passa por esses dissabores e constrangimentos nos seus
deslocamentos, pois na maioria das vezes não usa o carro oficial. Ele normalmente
se desloca pelo ar, usando um helicóptero à sua disposição, até o CAB - Centro
Administrativo da Bahia, além de passar parte do seu tempo em Brasília, em
articulações e pajelanças, para atender suas ambições políticas. É conhecido
por ser um tipo que fala muito e trabalha pouco.
De
um modo geral, a insensibilidade politica impera. Em São Paulo, por exemplo, no
início dos protestos, enquanto seus integrantes bradavam pela redução das
tarifas dos coletivos, os principais líderes políticos do estado, os Srs.
Geraldo Alkmin e Fernando Haddad, totalmente indiferentes, de cima do pedestal
de suas arrogâncias, deliciavam-se em Paris. O governador Alkmin quando
entrevistado por um repórter, declarou: “São movimentos de arruaceiros, que
querem promover a baderna...” Não caberia outra resposta daquele que representa
a ala política de extrema direita no estado, típica de um membro do TFP - Tradicional
Família Paulista. Já Fernando Haddad, pivô do aumento das tarifas, motivo que
iniciou os protestos, tendo ficado acuado na sua Prefeitura, fugiu de
helicóptero, de forma vergonhosa, partindo do terraço do prédio.
Pode
parecer muito barulho por apenas vinte centavos, mas o que muita gente não sabe
é que, para quem ganha o salário mínimo, representa muito. Segundo pesquisa do
DIEESE, o cidadão que anda de ônibus duas vezes ao dia, deixa na catraca mais
de dois salários mínimos por ano, se tiver que baldear e tomar até três ônibus,
no percurso de seu trabalho pode desembolsar bem mais que isso. Num outro
levantamento e cálculo do Órgão, as passagens urbanas subiram 670% de 1994 para
cá, contra uma inflação de 281%, para o mesmo período. Por isso, há razão para
protestar, e ainda mais, pelo passe livre!
O
MPL- Movimento Passe Livre é formado por jovens estudantes de diversos
estabelecimentos de ensino, e se utiliza das redes sociais para discutir e
promover mobilizações. Foi justamente através das redes, que eles mobilizaram
essa multidão no Brasil inteiro e até brasileiros de outros países que se
solidarizaram com a causa.
Os
lamentáveis episódios de vandalismos que ocorreram nas manifestações envolveram
grupos de outras origens, com outros valores, alienados politicamente. Estão se
aproveitando das mobilizações, para realizar quebra-quebra e saques em lojas.
Muitos deles são fichados e tem passagem pela polícia, pois são contumazes
contraventores. A estes, caberia ao Batalhão de Choque tentar cercar e impedir
tal vandalismo, em vez de ficar bloqueando as marchas pacíficas dos protestos.
Estamos
vivendo momentos inusitados de pura cidadania, com manifestações democráticas
de civismo e forte dose de patriotismo.
Esses
idos de junho de 2013 ficarão na História do Brasil, pelo despertar de um povo
oprimido por tantas injustiças, que estava adormecido, acordando para o renascimento
de um movimento social, com grande vigor!
Almir Tosta
Escritor e Pesquisador
20 de junho de 2013.
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No meu tempo era melhor
Angelo Romero (Academia Petropolitana de Letras)
Quando jovem eu ouvia, vez por outra, minha saudosa mãe dizer: “Ah, no meu tempo isso era melhor!” Quantos de vocês, jovens leitores, já ouviram essa frase ser dita por pessoas idosas, hem? Naquelas oportunidades eu ficava irritado com mamãe e costumava rebater, buscando argumentos para comparar o tempo dela com o meu. Foi preciso que eu envelhecesse para entender o porquê de ela dizer aquilo. O tempo ao que ela se referia, ela era jovem e quando se é jovem tudo é melhor: nossa disposição física, nossa vista, nossa musculatura, nossa saúde, nossa perspectiva de vida, nossos sonhos e esperanças, nossa memória, etc. Não eram as coisas que eram melhores, era ela que era melhor. Quando mamãe era jovem precisava dar corda na vitrola para tocar um disco e a cada disco tinha que trocar de agulha. O disco era feito de cera de carnaúba e se partia com facilidade. Imaginem vocês, a qualidade do som. Meu pai mal conseguia ouvir, diante de tantos chiados, a transmissão radiofônica, dos jogos das primeiras copas do mundo de futebol. O rádio era grande, pesado e composto por válvulas. Um tio que não conheci, irmão de mamãe, faleceu em Campos de Jordão, em virtude de uma tuberculose. Minha avó materna, já bem idosa, cozinhava em fogão à lenha e precisava colocar carvão no pesado ferro para passar roupa e comprávamos pedra de gelo para colocar na geladeira. Poucas famílias tinham telefone e ficava-se mais de ano na fila de espera para se conseguir a instalação de um aparelho. Só para se ter uma idéia, em relação à comunicação nos tempos de hoje, o número de aparelhos celulares em uso no Brasil é maior que a população brasileira. Quanto tempo levava o Correio para entregar uma carta? Hoje, um e-mail chega no momento seguinte em que é passado. Quantas linhas de texto eu teria que usar para fazer tantas comparações, hem?
Eu sei que Frank Sinatra foi e ainda é meu ídolo como cantor e que Michel Teló é o ídolo de meu neto, e daí? Nem tudo de ontem foi melhor, como nem tudo de hoje é. A vida é mutante. Nem o pobre quer mais um aparelho de televisão em preto e branco e de 14 polegadas . Logo a classe média terá TV de 50 polegadas e em 3D. Se antes o favelado não tinha rádio, nem telefone, hoje tem TV em cores e celulares. A primeira vez que fui a Recife de avião, o vôo durou doze horas; hoje vou em quatro.
É importante que se diga que muito do que hoje é plantado, principalmente nos campos da ciência e da tecnologia, não é para nosso consumo. Quem irá se beneficiar será a futura geração.
A grande maioria dos e-mails que costumam ser repassados, não vale o tempo perdido. Porém, vez por outra nos chegam e-mails inteligentes e curiosos. Recebi hoje um desses e-mails que me surpreendeu positivamente. O tema gira sobre passado e presente, vantagem e desvantagem discutidas entre um jovem e uma senhora idosa num supermercado. O jovem culpava a geração da tal senhora de não ter tido preocupação em preservar o verde e cuidar do meio ambiente da terra. Dizia que a tal senhora deveria ter trazido uma sacola de pano de casa para as compras, ao invés de usar uma sacola de plástico. Ao que a senhora respondeu:
- Você está certo. Eu nunca me preocupei com o meio ambiente. No meu tempo não havia sacolas de plásticos. Aliás, nada do que consumíamos vinha embalado em plásticos. O leite, os refrigerantes e as cervejas vinham em garrafas de vidro e os cascos vazios eram trocados e depois reaproveitados pela indústria. Subíamos as escadas movimentando nossas pernas porque não havia escadas rolantes nos prédios de lojas e escritórios a consumir energia. Caminhávamos dois a três quarteirões para fazer compras ao invés de usarmos automóveis de 300 cavalos de potência. As fraudas não eram descartáveis. Eram de pano que tínhamos que lavar e por para secar, usando a energia solar e eólica, ao invés das máquinas de lavar com 220 volts. No meu tempo, tínhamos só um aparelho de TV em casa, ao invés de um aparelho em cada cômodo. O aparelho era pequeno. Não era um telão enorme que logo terá que ser descartado e trocado por outro maior. Em cada cômodo existia uma única tomada, e não um quadro de tomadas para alimentar diversos aparelhos. Na cozinha tínhamos que bater tudo na mão porque não existiam máquinas elétricas. Quando embalávamos algo frágil para remeter pelo correio, usávamos jornal velho como proteção, ao invés de plástico bolha. Fazíamos exercício para cortar nossa grama com cortador manual, ao invés dos cortadores movidos à gasolina. Como nossos trabalhos caseiros exigiam de nós grandes exercícios, não precisávamos exercitar nossos músculos nas esteiras elétricas das academias. Bebíamos diretamente da fonte, em copos de vidro a água tirada de filtros de barro, ao invés de usar copos e garrafinhas de plástico. Carregávamos de tinta nossas canetas que durava uma eternidade, ao invés das atuais canetas que jogamos no lixo quando acaba a tinta. Amolávamos nossas navalhas, ao invés de usarmos aparelhos de barba descartável logo que fica sem corte. Nunca precisei usar um GPS para receber sinais de satélites capazes de nos ajudar a indicar a pizzaria mais próxima. Nossos filhos iam para escola a pé, de bonde, ou de bicicleta e não usavam a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Muita coisa mudou, meu jovem, até o respeito pela língua portuguesa. Quer um exemplo? Meu filho nunca foi vítima de bulling na escola. Quando muito, foi sacaneado por colegas mais velhos e mais robustos, como a maioria das crianças menores e mais franzinas foram também. Mais este fato nunca deixou sequelas.
Talvez por não ter tido necessidade de desmatar nossas florestas como hoje fazem as indústrias, por não ter poluído os rios com material descartável e o ar, com os gazes tóxicos dos veículos a motor, eu não tenha me preocupado com o meio ambiente como deveria.
Entretanto, vejo que sua geração vive preocupada com o meio ambiente e futuro da terra. É dignificante! Porém, não creio que consiga viver como vivi em meu tempo, sem os benefícios tecnológicos atuais que facilitam a vida e promovem um conforto egoísta, conforte esse que o torna alheio aos problemas que as próximas gerações terão que enfrentar.
O jovem ouviu tudo em silêncio respeitoso e nada falou, porque nada teria para dizer.
Publicada em 13/4/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
A quebra do
narcisismo teológico
O
Cristianismo em sua origem e essência se mantinha próximo de seus seguidores e
fiéis. Jesus pregava o Evangelho de maneira simples, exaltando os pobres e
aqueles puros de coração.
Na
Idade Média, o distanciamento da Igreja do povo, se acentua de forma bastante
significativa. O sistema social se configurava de forma muito nítida, numa
rígida divisão de classes entre a nobreza, o clero e a plebe. A Igreja passou a ter domínio, hegemonia e
mais poder através de um poderoso instrumento de terror, o mais hediondo da
época: a Inquisição ou o Santo Ofício, que passou a desafiar e competir poder
com os Reinos e suas nobrezas.
A
religião, com a Igreja distante do povo, só se mantinha viva por conta dos
princípios religiosos do Evangelho, que eram transmitidos de pai para filho, na
pureza dos ensinamentos cristãos.
O
povo, oprimido por um regime feudal perverso, vivia com medo e sob ameaça de um
Tribunal, que podia condená-los e levá-los à fogueira. O clero, regido por uma
hierarquia eclesiástica, vivia dos benefícios de um sistema que o protegia,
mantendo-o distante do povo, numa indiferença virtualmente egoísta.
A
Igreja cresceu, constituiu sua sede administrativa em Roma, fazendo surgir o
poderoso Vaticano. Uma sucessão de papas em muitos pontificados corruptos, tão
poderosos quantos muitos reis e imperadores, tendo exércitos de Cavaleiros
Cruzados, de Templários e monges guerreiros que combatiam e defendiam sob o
aval e benção papal. Tornaram-se verdadeiros monarcas em seus pontificados,
cercados por um séquito de ambiciosos cardeais, formando uma Corte de pompa com
excessos de vaidades, com seus luxuosos paramentos e suas reluzentes tiaras.
Foi
mantido o ritual dos reis, com respeitosas reverências e atitudes de pura
obediência e vassalagens com os atos do beija-mão. O Clero, mantendo-se sempre
altaneiro, autossuficiente e orgulhoso, num virtual narcisismo teológico, deu
as costas para os fiéis, adotou o latim na liturgia e afastando-os de vez, na
condição de simples mortais.
Assim,
a Igreja atravessou séculos de descaminhos.
A
temível Inquisição, num termo mais abrandado, tornou-se modernamente o Gabinete
da Congregação para a Defesa da Fé, tendo o Cardeal Ratzinger, sido o seu representante e dirigente,
onde a fogueira deixando de existir, foi substituída pela excomunhão e
imposição do silêncio, como aconteceu com o teólogo Leonardo Boff, principal
baluarte da Teologia da Libertação.
Com
o novo papa Francisco, recém-eleito, existe sinais e indicativos de mudanças. A
princípio, se manteve indiferente com certas tradições ou prerrogativas dos
pontífices. Isso denota um comportamento de quem quer se
aproximar das comunidades de fiéis, quebrando muitos paradigmas que afasta a
Igreja de seus seguidores. Tem atitudes simples, despojadas de vaidades e orgulhos.
Nos
cumprimentos, a exemplo da visita da nossa Presidente Dilma, se antecipou
estendendo as mãos, evitando a protocolar tradição do beijo no anel de Sua
Santidade.
A
Igreja, manchada com tantas ocorrências, de casos de pedofilia, operações
corruptas do Banco Ambrosiano e no IOR, revelações de segredos do Vaticano, atingiu
o limite possível dos escândalos. Uma Cúria composta de tantas eminências
pardas, que praticam intrigas nos subterrâneos dos bastidores, precisa ser arejada
e mudada.
É
uma difícil tarefa para o Pontificado de Francisco I, porém ele já demonstrou
firmeza de propósitos e atitudes determinadas ao confrontar um governo
autoritário de uma ditadura, quando Cardeal Arcebispo de Buenos Aires.
A impressão
que já se percebe é que o mundo católico dá boas vindas ao novo Papa e deposita
nele as maiores esperanças de renovação da Igreja.
Almir Tosta
Escritor e Pesquisador
O Turismo Sexual
Há
alguns anos, trabalhei em determinados fins de semana, como guia turístico em
Salvador e pude constatar o perfil de interesse dos turistas. Tal atividade era
por eu ter pleno domínio tanto da História, como dos aspectos do Patrimônio
colonial do Pelourinho. Seguia um roteiro, que começava pelo Farol da Barra,
antigo Forte da Vigia, construído em 1534, no século XVI, para proteger e
defender a cidade das ações corsárias e invasões. Passava também pelo Forte de
Santa Maria, no Porto da Barra, local onde desembarcaram os holandeses, Solar
do Unhão, Forte de São Marcelo, Museu de Arte Sacra e outras atrações,
terminando com a visita à Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.
O
interior da igreja da Ordem de São Francisco é considerado o mais rico do
Brasil – o esplendor da arte barroca. Está situada no conjunto arquitetônico do
Pelourinho, que teve sua construção e ocupação a partir do início do século
XVII e que servia de morada dos ricos e de toda a aristocracia rural do
Recôncavo baiano.
As
pessoas dos grupos que eu monitorava se diferenciavam bastante. Geralmente, pela
postura e comportamento, eu já identificava as interessadas a conhecer a
história e vivências do local. Demonstravam também, através das perguntas, uma
certa abrangência cultural. Enquanto que
outras se portavam de forma inquieta, demonstrando um interesse apenas visual, sem
nenhuma atenção aos aspectos históricos da velha cidade de Salvador.
As
diferenças comportamentais também eram perceptíveis nos grupos monitorados por
outros guias que tinham fluência em alemão e francês. Trabalhávamos em
parceria, já que eu dispunha do conhecimento histórico e eles traduziam para os
referidos idiomas. Entre esses grupos, as diferenças eram outras, os que não se
interessavam pela história, buscavam informações sobre as programações noturnas,
interessados nas baianas e mulatas para extravasarem seus propósitos, nada
culturais.
Esse
fenômeno ocorre em todas as capitais que são os principais destinos turísticos como
Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza e Natal. No caso de São Paulo, como
é um destino com natureza voltada para negócios, dado a diversidade de seu
parque industrial, o maior da América Latina, isso ocorre em escala menor.
A
prostituição está nas ruas e os programas são negociados nas esquinas. E isso ocorre
com tanta intensidade que certas cidades do Nordeste, viraram destinos para
estrangeiros, notadamente alemães, holandeses ou portugueses, que municiados
com euros, pagam metade das contas, e chegam
em grandes levas em voos charters, atraídos por um
único interesse: desfrutar de um oásis de sexo barato. Aos grupos, promovem
verdadeiras orgias em seus hotéis e já chegam do exterior com hotel e
acompanhantes contratadas pelas agências locais, para recebê-los no aeroporto,
tudo já incluído no pacote de viagem da operadora do exterior. É o turismo sexual
dissimulado de um receptivo turístico.
Não
tem maneira de controlar isso, pois chegar a um hotel com uma acompanhante,
desde que seja maior de idade, não há
nada que possa impedir.
Almir Tosta
Escritor
e pesquisador
Alegoria de Carnaval do Cruz Vermelha - Imagem
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O Esplendor dos Antigos
Carnavais e Clubes de Salvador.
Até meados do século
passado, um grande contingente de pessoas chegava a Capital baiana para assistir
aos desfiles promovidos pelos Clubes, que se apresentavam pela Avenida, com
grande requinte em suas fantasias e alegorias de seus carros, numa frenética
disputa pelas premiações. Foi um período de glória dos consagrados clubes Cruz
Vermelha e Fantoches, campeões dos carnavais.
Ao longo da Avenida Sete
de Setembro, das Mercês ao São Bento, a população trazia suas cadeiras e bancos
para assistir confortavelmente, as atrações momesca. Era um Carnaval de
característica familiar e um tanto provinciana.
Com o passar do tempo,
as laranjinhas de cheiro, artifício muito utilizado na época, foram substituídas
pelo lança-perfume e o papel picado transformou-se no confete e nas serpentinas,
que eram usados de forma provocante, numa brincadeira ingênua e
divertida.
Grupos de mascarados,
após percorrerem seus bairros, de forma anônima, ganhavam Avenida para
extravasar a alegria e dar vazão às brincadeiras com pessoas desconhecidas que
encontravam ao longo da rua.
Fantasias de toda sorte
davam uma dimensão multicolorida e alegre à festa. Tinham aqueles que se
divertiam pelo simples fato de fazer graça, com fantasias bizarras e, de certa
forma, muito criativas. No conjunto, era um carnaval melhor e mais divertido que
o de hoje.
A indústria do Carnaval
atual o padronizou, tirando-lhe a identidade, a graça e a beleza, proporcionadas
pelo improviso e a criatividade popular.
Para brincar e pular
agora, de forma menos insegura, o folião tem que pagar, pois a violência veio
substituir a tranquilidade. Com isso o espaço ficou restrito a uma barreira de
cordas, com seguranças, muitas vezes despreparados. Os blocos criaram uma
discriminação social, por conta dos critérios subjetivos para admissão e pelos
altos preços cobrados.
Dos antigos clubes
sociais de Salvador, o Cruz Vermelha foi um dos melhores. Sua primeira sede
funcionou na Barroquinha e por último, no Campo Grande. Durante quase um século
de existência chegou a colecionar 72 títulos de concursos de desfiles de
Carnaval. Apresentou-se pela última vez em 1958, com o tema-enredo, “Helena de
Tróia”, encerrando suas atividades de forma honrosa, tendo marcado época no
calendário carnavalesco baiano.
Outro clube social que
marcou época foi o Fantoches, que se tornou o clube das elites, pois a seleção
se fazia pelos altos preços cobrados da joia e das mensalidades. Sua estreia em desfile de carnaval foi com grande
pompa. Na época, seu presidente era o rico e bem sucedido empresário Luiz
Tarquínio. O Clube foi premiado diversas vezes. Sua sede ainda funciona na Rua
dos Democratas, mas suas atividades e premiações encerraram em 1959, com o
desfile de tema-enredo, “A Corte de Luiz XV”.
Quando o Bloco “Os
Inocentes” desfilou pela primeira vez, com 50 homens fantasiados de bebês com
fraldas, chupetas e “mamãe sacodes”, despertou a simpatia popular, pelo que é
mais autêntico e típico do Carnaval, a gozação e o
deboche.
Foi a quebra do tabu e
do paradigma dos carnavais dos desfiles-show. Os Inocentes inauguraram a
rebeldia e a irreverência, expandindo a graça e a
alegria.
Era um Bloco que não
concorria e nem queria concorrer a coisa nenhuma. Apenas brincar de forma
ingênua e gaiata. Entretanto, na década de 60, dada a sua inovação, usando
tecnologia de primeiro mundo, com efeitos de luz e brilho nas alegorias,
acabaram premiados pela beleza e a escolha do tema Ali Babá e os 40 Ladrões,
fazendo alusão aos políticos da época.
Hoje o Carnaval tem se
transformado numa vitrine, onde uma minoria se apresenta para uma multidão, que
se espreme entre cordas e empurrões, tentando se balançar, sem cair.
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